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quinta-feira, 31 de março de 2011

...MULHER..........




Tu és fibra...tu és útero
Tu és coração...
Tu és mamas...alimento jorrando
Tu és ternura...dedicação.
Mesmo cansada,
te preparas
para a tripla jornada de trabalho...
Com teu homem,
és fogo queimando,
sentimento latente,
amor ardente,
carinho desmedido...
Enfrentas a TPM...
menstruação...
menopausa...
MULHER,
tu és sexo forte...
E, ao mesmo tempo
tão frágil...
Choras e sofres
pela ingratidão,
pelo desamor...
Na liderança, tu és competência
Quando intelectual, és puro talento
E na velhice,
com que garbo ostentas
em teu rosto, como troféu,
todas as marcas
que te deixaram a vida!...

Maria José Zanini Tauil

quarta-feira, 30 de março de 2011

...mulher......

Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.

Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!

Rui de Noronha (Moçambique)

segunda-feira, 28 de março de 2011

SE MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR


Blue Landscape (1949)
Marc Chagall (1887-1985)


Garcia Lorca, no Dia Mundial da Poesia

Eu pronuncio teu nome

nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.


Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.


Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

Federico Garcia Lorca (1898-1936)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Estou triste




Eu tinha grandes coisas para vos dizer
Porém não tenho tempo. Vou-me embora.
Deixo-vos com a vossa tristeza
mergulhada no vinho quieta envilecida.
Minha tristeza é mais pura
não se esconde no vinho não se esconde.
Precisa de grandes gritos ao ar livre.
De partir à pedrada o copo
onde a vossa tristeza apodrece.
Preciso de correr. Apertar muitas mãos
encher as ruas de muita gente.
Precisa de batalhas.


Manuel Alegre

quinta-feira, 24 de março de 2011

Não me lembro,.....

Afirmas que brigámos, que foi grave...



Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro.

Rosa Lobato Faria

Imagem retirada do Google

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bonne nuit.....


Esta, é aquela estranha hora em que te sinto colada á flor da minha pele, com a boca húmida procurando no braille dos meus sentidos o caminho certo onde teu beijo se vai esmagar nos lábios meus........

BOCA




A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?)
espera o ardor do vento
para ser ave e cantar.

Levar-te à boca,
beber a água mais funda do teu ser
se a luz é tanta,
como se pode morrer?

Eugénio de Andrade

terça-feira, 22 de março de 2011

és por ti que.....


Para que no me dejes nunca.


Para que lo tengas
como tu mejor recuerdo.
Porque tú me lo has pedido,

para ti lo estoy escribiendo.

Dibujé un día
navidades blancas
cargadas
de luces,
de risas
y de sueños...
y como un regalo
caído del cielo,
llegaste TÚ
como traído
con el pensamiento.

Soñé otro día
que nunca
me faltaría nada,
pero a veces
los sueños
sólo son lo que queremos…

por eso siempre
ilusiono sola,
como tratando de huir
de lo verdadero.

Pensé que quizás
lo que me pasaba,
era sólo,
lo que yo
estaba queriendo,
y por pensar querer
demasiado...
...desperté...
...y los sueños
se fueron desvaneciendo.
Lo hago para ti
que me lo has pedido.
Es por ti
que lo estoy escribiendo.









segunda-feira, 21 de março de 2011

Só por perguntar.....

Se a preguiça é pecado,
o que Deus estará fazendo agora?
Em que se ocupa aquele que tudo pode?
Terá restado algo por fazer
depois que o mundo foi criado?

Se o desejo é fraqueza,
Deus nunca deseja?
Mas se é verdade que nos criou,
algo nele desejou.

Se a vaidade é um erro,
por que nos fez
À sua imagem e semelhança?
Ou terá sido o contrário?

Por que criar alguém
capaz de duvidar da criação?
Por que nós e ele não?

Alice Ruiz

domingo, 20 de março de 2011

sábado, 19 de março de 2011

...como se fossem as minhas..............

AS TUAS MÃOS

as tuas mãos longas

e morenas

que exprimem do gesto

a subtileza

são lindas, são etéreas

são subtis.

Parecem aves

esvoaçando presas...

Como gosto

de, perdida em pensamento,

seguir as figuras

que, no espaço,

as tuas mãos desenham

em sentido,

e cingi-las ao meu corpo

qual abraço...

Como gosto

quando apontam o universo,

os dedos estirados

como setas...

me elevam, me redimem, me libertam.

Me encontram o perdão

do meu pecado.

Me acalmam,

me sublimam,

como ascetas.!!


De : Helena Guimaraes





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sexta-feira, 18 de março de 2011

depois..................

Primeiro a tua mão sobre o meu seio



Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama

Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé,
A tua mão dormindo no meu seio.

Rosa Lobato Faria

Imagem retirada do Google

quinta-feira, 17 de março de 2011

Explicaçãozinha ....




As mortes acontecem, se sucedem,
Que a vida há de ter um fim.

E me perguntam: continuas aí?
Perceba que teus amigos se vão
E muitos outros que não querem ir.

Continuo acreditando
Que a vida é uma sala onde não cabem todos
E, é bem melhor, não fazer barulho
Quando a foice vai passando.

E é, em silêncio, que vou ficando!



quarta-feira, 16 de março de 2011

A máscara....


 A MASCARA

Quem de nós tem a coragem

de aceitar a sua imagem,

aquela imagem sem graça,

sem rasgos, imagem baça

que o espelho teima em reflectir?

Quem de nós tem a ousadia,

no viver do dia a dia,

de retirar a mordaça

gritando ao vento que passa

o seu interno sentir?

Quem deixa cair a máscara?

Fantasia construída

de cada um para si.

Máscara de Rei, de Profeta,

de intelectual, de poeta,

de homem muito importante

que não esquece a cada instante

o gesto, o sorrir conveniente,

a vénia subserviente,

que nunca o desmascara.

Quem deixa cair a máscara?



De : Helena Guimaraes

terça-feira, 15 de março de 2011

A vida parou....


 A VIDA PAROU

O sol brilha cálido

lá fora.

Hoje não o sinto!

Está tão distante

o velho que lê o jornal

junto ao quiosque.

A vida parou ontem.

Exactamente àquela hora.

Hoje é o vazio

e apesar do sol

está frio.

Vejo os outros,

longínquos,

a fruir a vida

sem tempo.

Eu estou dentro de mim,

com uma réstia de ti

no sentimento,

o teu olhar

no pensamento,

a tua imagem,

esbatida,

a cortar-me a ligação

com a vida..

H.G..Janeiro2003.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Não desisti de habitar a arca azul....




Não desisti de habitar a arca azul
do antiquíssimo sossego do universo,
A minha ascendência é o sol e uma montanha verde
e a lisa ondulação do mar unânime.
Há novecentas nebulosas espirais
mas só o teu corpo é um arbusto que sangra
e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.
Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes
vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.
Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos
de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.
Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,
sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!
A minha vida é uma lenta pulsação
sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.
Há bois lentos e profundos no meu corpo
de um outono compacto e negro como um século.
Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos
a deusa da noite, sonâmbula, desliza.
Ao rumor da folhagem e da areia
escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.
Prisioneiro de lonquínquas raízes
ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.
Vislumbro uma luz incompreensível
sobre os campos áridos das semanas.
Elevo o canto profundo do meu corpo
sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.
Escrevo como se escrevesse com os meus pulmões
ou como se tocasse os teus joelhos planetários
ou adormecesse languidamente no teu sexo.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

sábado, 12 de março de 2011

E aprendi a viver em.....

Para atravessar contigo o deserto do mundo



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 10 de março de 2011

Blues da morte de amor.....




Já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah não
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes. uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete:- morrer ou não morrer, darling, ah, sim.

Vasco Graça Moura

Foto:Oleg Seleznev

quarta-feira, 9 de março de 2011

Coração polar.




Não sei bem de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus náufragos
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

Manuel Alegre

Imagem retirada do Google

terça-feira, 8 de março de 2011

É preciso amar....



Hoje me dei de presente
Não olhar para o passado.

Sei que o futuro é cada dia
E, com o tempo, mais frágil
Está meu pobre coração
Que não amou tudo que podia.

Porém, em mim, também há a alegria
De saber que o amor é um poço sem fundo
Inexplicável e confuso como o mundo
Onde é preciso descer mais
Para poder beber a água do bem querer.

Como das alturas, tenho medo das profundidades,
No entanto, meu desejo é maior que os meus medos
E, mesmo sem ser escanfrandista,
Na escuridão apuro a vista.
Sei que preciso mergulhar.

Não há vida
Nem amor
Sem risco.

E, mais do nunca, é preciso amar.

Sonhei tanto com um ardente corpo.....na praia....srrsrssr




Sonhei tanto com um ardente corpo
entre o fragor dos monstros e a mudez dos muros
que o meu suor modelou os espectros do mundo
e as sonâmbulas figuras do meu desejo errante

Perdi-me tantas vezes no desespero dos labirintos
na solidão da sede ou no fundo de um túnel
que me senti incapaz de esperar o nupcial encontro
que me libertaria dos círculos infernais

Mas encontrei-te para além da névoa
com o fulgor oval de um começo puro
e com a fragrância dos teus olhos matinais

No animal ardor o meu sangue subia
e no teu rosto via uma rosácea azul
e nos teus lábios um sonho de inteligência branca
em que voavam duas aves na penumbra das fronteiras

António Ramos Rosa

segunda-feira, 7 de março de 2011

Subitamente surge. Tem o teu nome




O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparência da lâmpada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chávenas de café.
É tarde e és tu.
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar.

Nuno Júdice

domingo, 6 de março de 2011

Palavras......




Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

Imprevista.....



O meu amor é manso como os velhos rios.
Quando fala sua voz imita o vento
Nos seus mais doces cicios
Tão suave quanto o mais belo pensamento.

O meu amor, porém, parece uma fera
Perseguindo a caça quando ama
Inigualável ninguém a supera
Em me fazer feliz no ar, no céu, na cama.

O meu amor no carnaval se fantasia
De forma que quem ela é nunca sei
E só depois revela numa poesia
Que foi ela a mascarada que beijei.

sábado, 5 de março de 2011

foi a tua entrega....

Quando te vi senti um puro tremor de Primavera



Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas
O siêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa

quinta-feira, 3 de março de 2011

concordo......

Maio 16, 2009

Como odeio banalidades



Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres.
Eu, que sou tão comum que nem preciso olhar-me ao espelho,
Igual que sou a tantas outras mulheres,
Com que me cruzo e das quais não me distingo.
Eu odeio a banalidade!
Odeio as frases feitas de quem pergunta:
- Olá como está? E nem quer saber.
Odeio os bons dias, as boas tardes, as boas noites,
Ditos sem pensar,
Ou a pensar em coisa nenhuma,
Ou a pensar noutra coisa qualquer que não o desejo,
Que o dia, a tarde, ou a noite nos corram bem e sejam bons.
Eu odeio frases feitas!
Odeio as vizinhas à janela,
As amigas e amigos nos cafés, nos bares, nos autocarros,
Com vidas tão fúteis e pequeninas que dissecam as dos outros,
Que cortam a casaca dos melhores amigos pedaço a pedaço
Achando que os amigos são os melhores amigos, e nunca cortariam as deles.
Mas cortam!
E são más-línguas, maus caracteres, sem carácter!
Eu odeio vizinhas a bisbilhotar à janela!
E as pessoas que passam?
E a multidão anónima que percorre as ruas em zig-zag evitando pedintes e mãos que se estendem?
E que colam a mala ao corpo achando que ser pobre é ser ladrão.
E se aconchegam na roupa comprada na zara, ou nos mercados de rua,
Mas muito sua!
E que são caridosos, piedosos, apiedados,
Compreensivos com a desgraça alheia se não tiverem de dar um cêntimo
E a caridade for só da boca para fora!
Eu odeio a caridade hipócrita da multidão!
E os gajos?
Os gajos mesmo gajos!
Os gajos na verdadeira acepção da palavra!
Os que se sentam em esplanadas ou se encostam em montras esperando as mulheres,
As deles,
E discretos apreciam pernas e cus das outras,
As que passam.
E lambem os beiços, e coçam os tomates e pensam ou dizem:
- Esta gaja é muita boa!
Como odeio a frase” esta gaja é muita boa”!
Dita por gajos que em casa têm mulheres que nem olham.
E às quais nem falam.
E que na cama despacham sexo e mulher,
Despejando o desejo das gajas boas que comeram com os olhos.
Na rua.
Ah! Como eu odeio estes gajos!
E as gajas?
As santinhas, as pudicas, as que têm sempre na ponta da língua um:
Ai credo, um julgamento, uma condenação.
As que são contra o aborto, contra a pílula, contra a educação sexual,
Contra tudo que seja sexo!
Escrito, pintado, feito ou falado.
E quando têm “maus pensamentos” correm às sacristias:
- Sr. Padre sonhei que estava a fazer sexo oral, confessam.
Como se sexo oral fosse um pecado capital,
Esquecendo que só o peixe morre pela boca.
E lavam as mãos nas pias,
E cumprem todas as penitências,
Mas falam do sexo da vizinha que é uma descarada.
E são donas de verdades absolutas.
E nunca têm dúvidas.
E só dizem…
B a n a l i d a d e s!
Ah! Como odeio falsas santinhas e ratas de sacristia!
E eu?
Eu que sou banal, normal, vulgar, mas odeio a vulgaridade,
Eu que mando à merda quem me chateia
Eu que escrevo asneiras se me dá na gana,
E que para um sacana sou sacana e meia!
Eu odeio sacanas!
Aqueles de falas mansas e que parecem santos,
E que dão a roupa toda e pelos outros ficam em pêlo,
Mas em casa vão ao pêlo às mulheres,
E deixam-nas:
Negras de pancada,
Negras de dor,
Negras de pavor.
Ah …Se pudesse dava um tiro nos cornos desses sacanas!
E de outros:
Os abusadores, os ladrões de inocências,
Os que roubam infâncias e semeiam pesadelos.
Esses castrava-os a todos!
Os do passado, do presente e do futuro,
Já que a justiça não castra senão a esperança de justiça!

Eu, que sou mais banal e vulgar que a mais banal das mulheres,
Eu, que por fora ninguém distingue ou olha duas vezes ao passar.
Odeio banalidades!

Encandescente, De : VEB CLUB

quarta-feira, 2 de março de 2011

Vale a pena haver nascido....





Todos los días descubro…

Octavio Paz

Según un poema de Fernando Pessoa

Todos los días descubro
La espantosa realidad de las cosas:
Cada cosa es lo que es.
Que difícil es decir esto y decir
Cuánto me alegra y como me basta.
Para ser completo existir es suficiente.

He escrito muchos poemas.
Claro, he de escribir otros más.
Cada poema mío dice lo mismo,
Cada poema mío es diferente,
Cada cosa es una manera distinta de decir lo mismo.

A veces miro una piedra.
No pienso que ella siente,
No me empeño en llamarla hermana.
Me gusta por ser piedra,
Me gusta porque no siente,
Me gusta porque no tiene parentesco conmigo.
Otras veces oigo pasar el viento:
Vale la pena haber nacido
Sólo por oír pasar el viento.

No sé qué pensarán los otros al leer esto
Creo que ha de ser bueno porque lo pienso sin esfuerzo;
Lo pienso sin pensar que otros me oyen pensar,
Lo pienso sin pensamientos,
Lo digo como lo dicen mis palabras.

Una vez me llamaron poeta materialista.
Y yo me sorprendí: nunca había pensado
Que pudiesen darme este o aquel nombre.
Ni siquiera soy poeta: veo.
Si vale lo que escribo, no es valer mío.
El valer está ahí, en mis versos.
Todo esto es absolutamente independiente de mi voluntad.

Todos os dias descubro

Segundo um poema de Fernando Pessoa

Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, que hei de escrever muitos outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la de irmã.
Gosto por ser pedra
Gosto porque não sente
Gosto porque não tem nenhum parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Somente para ouvir passar o vento.

Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamentos,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram de poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: só vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.