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quarta-feira, 31 de março de 2010

CANTO AO AMOR OCULTO

Como um passarinho vivo
Criando um ninho para o meu amor...

Hei de fazê-lo com as mais belas flores da floresta
e envolvê-lo com os mais doces cantos de outros pássaros
para cantar com os mais suaves sons que há.

Nem me importo de voar mais alto
Ou, de por longas distâncias, me cansar
Ou, se, na busca, venha a me machucar
Se os melhores e saborosos frutos recolher.

Só me importo, antes do luar aparecer, olhar seus olhos,
e cantar, no por do sol, o meu canto de glória,
pelo imenso amor que só posso ter

Que é mais belo ainda por ninguém perceber ....

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ás amigas que por aqui aparecem e que muito me agrada os seus comentarios...Beijo

Coisa Amar



Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te logamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

sábado, 27 de março de 2010

Jantar



Ao jantar, tive uma ninfa

para a sobremesa. Tirei-lhe o vestido

e fiquei com a polpa

nas mãos. Separei os gomos

dos seus seios, descasquei

a sua pele, soltei-lhe dos cabelos

os caroços, e vi o fruto abrir-se

num colar de róseas pérolas. Fiz

com que o seu sumo me escorresse

pelas mãos, e bebi-o na taça

dos seus lábios. Ao jantar,

com uma ninfa nua

no prato da sobremesa,

esperei pelo café; e enquanto

não chegava, esvaziei o prato,

e fiquei com fome.

Nuno Júdice

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sonho Árabe




Há rosas no azul do espaço;
A tarde lembra um jardim;
O deserto é d’oiro baço
E as mesquitas de marfim.

Caem flores quando passo,
Lá do alto sobre mim;
Allah abriu o regaço,
Cheira a cravos e a jasmim.

Entro na alcova, — alegrete
De cores festivas e aromas.
Tu bailas sobre um tapete.

Afago-te o seio duro,
E, ao beijar-te as duas pomas,
"Só Deus é grande!" — murmuro.

Jaime Cortesão

Foto:Elena Vasileva

segunda-feira, 22 de março de 2010


Canção amarga



Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sonho Azul



Voando
fechado no tempo,
Encontro momentos há muito perdidos.
Nos vales do paraíso
Infiltro a magia da liberdade
Nas veias da imaginação
E navego pela leveza do esplendor.
Acendo a tocha da reflexão
Embalo os sentimentos nos fluidos do silêncio
E abro a janela da criação

Vem comigo desvendar os mistérios da primavera
Delicadamente sentada no brilho das águas cristalinas,
Vaguear por entre os sons da inocência
E saborear a profundidade da beleza do carinho.
Vem decifrar as doces linhas dos enigmas
Que se escondem na beleza dos murmúrios do vento
E nas cores quentes do por do sol.
Vem percorrer as ondas do magnetismo absorvente
Do brilho dos olhares apaixonados pela sensual motivação
Da união de dois sentimentos.
Vem absorver essas gotas criadoras de sonhos interruptos
Que derrubam montanhas inexploráveis
Criando riachos por onde deslizas delicadamente deitada.
Vem provar o amor.

Jorge Viegas

segunda-feira, 15 de março de 2010

Caminharemos de olhos deslumbrados



Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.

Ary dos Santos

Imagem retirada do Google

sexta-feira, 12 de março de 2010


O dia amanheceu com gosto de cerveja.
As mãos ainda estremecidas
Buscaram a mulher que não havia
Ocupado a minha cama.

A cabeça pesada pesa menos que a vida desarrumada
E a lembrança do seu perfume e da pele macia
Que marcam sua ausência
Recorrente desejo que em mim ainda arde
Abrindo buracos no meu peito.

Um homem que navega à deriva
Ao sabor do vento não pode escolher
O porto para atracar.

O navio que sou
Navega por precisão
(apesar da imprecisão dos rumos)
Com o sentido único de que
Depois do mar
Nada há
Senão os lenços brancos do adeus
E a terra negra que cobre o esqueleto
Da nau inútil,

Ou seja,
Não há bússola, ou roteiro,
Capaz de modificar este navegar solitário.
E me entrego à cama confortável
Ainda mais sozinho

Para buscar o sono passageiro
Antes do sono eterno.

quarta-feira, 10 de março de 2010



De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.

Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda

Foto:Michael Schultes

terça-feira, 9 de março de 2010



CUMPLICIDADE

Nós temos conspirado,
Amada minha, contra o mundo:
Urdindo íntimas tramas
encontro furtivos,
atentando
contra o falso pudor
das beatas,
pintando as avenidas
com nossos nomes,
buscando a mesma escuridão
que os fugitivos,
inventando chaves e segredos,
resistindo a batalhas
cotidianas,
Imersos
em nossa causa
apaixonada e clandestina.



segunda-feira, 8 de março de 2010






CANTO AO AMOR OCULTO

Como um passarinho vivo
Criando um ninho para o meu amor...

Hei de fazê-lo com as mais belas flores da floresta
e envolvê-lo com os mais doces cantos de outros pássaros
para cantar com os mais suaves sons que há.

Nem me importo de voar mais alto
Ou, de por longas distâncias, me cansar
Ou, se, na busca, venha a me machucar
Se os melhores e saborosos frutos recolher.

Só me importo, antes do luar aparecer, olhar seus olhos,
e cantar, no por do sol, o meu canto de glória,
pelo imenso amor que só posso ter

Que é mais belo ainda por ninguém perceber ....

domingo, 7 de março de 2010



Algun dia

Darìo Jaramillo Agudelo

Algun dia te escribire un poema que no
mencione el aire ni la noche;
un poema que omita los nombres de las flores,
que no tenga jazmines o magnolias.
Algun dia te escribire un poema sin pajaros,
sin fuentes, un poema que eluda el mar
y que no mire a las estrellas.
Algun dia te escribire un poema que se limite
a pasar los dedos por tu piel
y que convierta en palabras tu mirada.
Sin comparaciones, sin metaforas,
algun dia escribire un poema que huela a ti,
un poema con el ritmo de tus pulsaciones,
con la intensidad estrujada de tu abrazo.
Algun dia te escribire un poema, el canto de mi dicha.

Algum dia

Algum dia te escreverei um poema que nao
Mencione o ar da noite;
Um poema que omita o nome das flores,
Que não tenha jasmins ou magnolias.
Algum dia escreverei um poema sem pássaros,
Sem fontes, um poema que esconda o mar
E que não olhe para as estrelas.
Algum dia escreverei um poema que se limite
A passar os dedos por tua pele
E que converta as palavras no teu olhar.
Sem comparações nem metáforas,
Algum dia escreverei um poema que tenha teu perfume,
Um poema com o ritmo de tuas pulsações,
Com a intensidade esmagadora de teu abraço.
Algum dia te escreverei um poema que será meu canto de felicidade.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dádiva



Não me peçam palavras melífluas
quando apenas a sonora gargalhada
me irrompe do peito como pedra lascada
nem sorrisinhos de catálogo de moda
quando o mijar numa esquina da cidade
é um acto poético e cheira a vida
não me peçam gestos simétricos e convencionais
quando um cosmopolítico manguito
abarca toda a náusea
de Bordalo a Pasolini
Não me peçam nunca aquilo que vós quereis
porque eu dou apenas aquilo que possuo
e que é esta raiva enorme de cuspir
esta feroz vontade de gritar
e o sexo amplo enorme e predisposto
a fertilizar o amor em todas as esquinas
peçam-me a mim
nada mais
e dar-vos-ei tudo o que possuo
o suor o sangue o sexo
EU
e comigo dar-vos-ei o homem primitivo
o que recusa a civilização do marketing
o que caga nas gravatas dos public-relations
mas que aposta no futuro único do
CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS
Sim peçam-me a mim
Tomai e comei

ESTE É O MEU CORPO

Fernando Peixoto

quarta-feira, 3 de março de 2010



Não tenho mais palavras pra te dar
Mas não temas
Ficou-se nosso caso pelos poemas
Pelos livros, pelas canções
Tuas e nossas
E escrevo-te somente
Pra que possas
Guardar nesse baú, que sei que possuis
Os meus beijos
Plenos e azuis
Imensos areais de firmamento...
Ficou o nosso amor escrito no vento
Resta-nos a liberdade
Desejada?
Quem disse que a vida é sempre justa
Que dizer adeus nunca nos custa
Se contigo se vai a vida inteira
No sonho de nós dois junto à lareira?!
Cá dentro, fica o eco e mais nada!...



Maria Mamede ( poetisa portuguesa )

terça-feira, 2 de março de 2010






Um poema de amor



Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice